quarta-feira, 23 de maio de 2012

Breves Momentos, movimentos breves.



Aos nossos caríssimos e caríssimas, saudações! Em meio a uma semana fria, noites frias e outono a pico forte resolvemos resgatar algumas memórias um tanto esquecidas (um tanto omitidas), feridas antigas, porém deveras amargas cá nos dias do então. Pois bem, há 22 anos Brasília rasgava os olhos frente ao documentário “Conterrâneos Velhos de Guerra” (direção e roteiro de Vladimir Carvalho). Com depoimentos de todos os lados e imagens raras, o filme relata o período da construção da capital federal e principalmente as condições precárias de cerca de 50 mil operários que no Planalto Central vieram buscar seu prometido Eldorado. Do início das filmagens até sua conclusão, estima-se corridos 20 anos, pois, muitos desses trabalhadores recusavam-se a sequer falar sobre esses tempos: “Diziam, ‘não, doutor, isso é muito perigoso”. E afinal de contas, "intimidação" é ainda uma palavra bastante modesta para definir a situação. Oriundos de todos os pontos cardeais e principalmente do nordeste, esses construtores deixaram seus estados fugindo da fome e das mazelas que já fazem escola em nosso país. Lidaram com uma realidade assombrosa, pois, além das condições climáticas totalmente diferenciadas (clima seco e muitas queixas de frio durante as noites), enfrentou-se a repressão policial, as mortes por acidentes de trabalho que nunca eram registradas ou sequer contabilizadas, os famosos "sumiços" de vidas que não tornaram jamais. E por fim, varridos pelas tangentes de uma cidade que em sua origem prometia ser "livre de diferenças sociais".

 

Deixando 1990 um pouco de lado, porém, a cerca do tema vamos falar um pouco do ano que precedeu a tão esperada inauguração da cidade planejada. Segunda-feira de carnaval, 1959, péssima alimentação (relatos dos operários), uma carga horária que podia levar até 10 horas ou “varar a noite”, e com a água do acampamento cortada instaurou-se a revolução (motim, entrevero) – Pratos atirados no pátio e muita confusão! E por falar em rasgar os olhos: Eis que surge a GEB (Guarda Especial de Brasília), que não podendo conter os quase mil operários, aquartelou-se. À noite, os guardas voltaram e metralharam o acampamento. Muita gente morreu, mas não se sabe quantos porque o caso foi abafado”, (http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/pioneiros-da-capital), conta Vladimir. 
E o fato ficou conhecido como O Massacre da Pacheco Fernandes Dantas, que para muitos é tido como uma lenda urbana da capital, já para outros tantos, uma trágica realidade sufocada durante os obscuros anos do barra.

O MASSACRE DA PACHECO FERNANDES DANTAS EM 1959: MEMÓRIA DOS TRABALHADORES DA CONSTRUÇÃO CIVIL DE BRASÍLIA
Fonte: http://unb.revistaintercambio.net.br/24h/pessoa/temp/anexo/1/1251/2053.pdf



"Brasília - Contradições de uma Cidade Nova"



E como não só do passado transitam as linhas cá na Vivienda, lá vamos nós! Na próxima sexta-feira (25/05)  finda o prazo estipulado pelo GDF para a desmonta dos barracos da ocupação solidádia organizada pelo MTST, em Ceilândia (QNQ/QNQ). 

Conforme o canal Brasil & Desenvolvimento, em relatos obtidos dos ocupantes da área:
“Não temos mais nada a perder, já vivemos uma vida de muito sofrimento, meu filho”, disse-me uma senhora. “Se morrermos, virão outros e outros. Pra alguns aqui, morrer seria até um alívio”, disse-me outro morador. Sim, morador! É assim que eles passaram a se designar depois que muduram para QNQ/QNQ em Ceilândia. Se antes o quarto, o cortiço, a moradia alugada era chamada de “o lugar onde eu pago aluguel”, aqueles precários barracos de lona cravados no chão batido são orgulhosamente denominados “casa”. E entre olhares corajosos em sorrisos cansados ouvi que “está tudo bem”, que “até aqui está ótimo” viver no Novo Pinheirinho.



Ocupação do MTST - "Pinheirinho Novo"
QNQ/QNQ - Ceilândia DF
(Antiga - Campanha de Erradicação de Invasões CEI)





Uma pequena ressalva:
Reconhecendo a gravidade do problema dos "favelados", (que em 1969 já eram cerca de 79.128) o governador Hélio Prates, solicitou à Secretaria de Serviços Sociais a criação da "Campanha de Erradicação de Invasões - (CEI), originando a cidade de Ceilândia DF, em 27 de março de 1971 e afastando "grandes grupos" dos valorizados centros comerciais de Brasília. 

Seria essa uma outra contradição? Pois, retirar "invasores" de uma área que originalmente foi criada para abraçá-los nos deixa deveras confusos. E por agora nos resta findar nossas linhas esperando que o melhor se resolva, que os ânimos se acalmem e que uma solução viável, seja para manifestantes, seja para o governo,  possa enfim ser acordada.



La Vivienda Libre:
Renan Santana
Juliana Farias.

Texto adaptado:
Renan Santana.

Fontes de pesquisa e vídeos documentais:
http://projetofrida.wordpress.com/
http://unb.revistaintercambio.net.br/24h/pessoa/temp/anexo/1/1251/2053.pdf
http://www.youtube.com/watch?v=qioofBMOR4c
http://www.youtube.com/watch?v=Fk7Hxsbhhqs&feature=related

Brasil & Desenvolvimento:
http://brasiledesenvolvimento.wordpress.com/2012/05/02/governo-ameaca-despejo-em-novo-pinheirinho-df/

Conterrâneos Velhos de Guerra:
http://www.siemaco.com.br/memoria/conterraneos.pdf

Agradecimentos:
A todos que gentilmente nos cederam seus textos e aos que disponibilizam seus trabalhos, imagens e ideias na rede. 




Um comentário:

  1. El desalojo es terrible! Construye imperios y, finalmente, son los esclavos que siempre cargan con el peso del pecado social. Brasilia es una ciudad sin ninguna explicación. Nunca he tenido y nunca lo hará!

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